Você quer se tornar as suas percepções?

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qua, 14/07/2010

No outro dia comecei a pensar nos hidrantes de incêndio. Não sei o porquê. Eu estava correndo numa calçada e gradualmente me tornei consciente de que o cordão do meu tênis estava solto. Com essa consciência, um pensamento entrou na minha mente consciente: "O laço do meu tênis direito ia se soltar em seguida." Em um nano segundo, eu sabia que isso significava parar para amarrar o tênis de novo. Naquele instante eu abri os olhos para o mundo exterior (porque aquele diálogo interior tinha sido de um segundo) e ao ver um hidrante de incêndio, percebi que podia parar ali e amarrar os tênis.

Mas como naquele momento eu estava correndo, acabei passando do hidrante no impulso em que eu vinha e, não querendo parar e voltar, pensei: "no próximo eu paro." Enquanto continuava correndo foi que eu percebi uma coisa. "Eu nunca tinha visto antes aquele hidrante!" Claro, apesar deste pensamento não ter a importância de um insight, eu o achei compreensivo! Afinal, eu corria naquele lugar há mais de sete anos e se você tivesse me perguntado onde havia um hidrante de incêndio ao longo daquele caminho, eu não seria capaz de lhe dizer. Hoje eu enxerguei um pela primeira vez.

Então, eu fiz algo bastante comum, mas que ainda tinha efeitos quase mágicos: pus na minha mente que iria esperar o próximo hidrante, pois assim poderia parar, apoiar o pé e amarrar os tênis. Era tudo tão simples, tão rotineiro, tão comum e, ainda assim, algumas coisas realmente incríveis tinham ocorrido por causa de um tênis desamarrado.

E o que aconteceu depois? Bom, eu continuei correndo, e o estranho é que comecei a achar hidrantes de incêndio por todos os lados. Hidrantes, de repente, começaram a surgir na minha consciência. Como correndo naquelas ruas por tantos anos, de repente comecei a ver os hidrantes de incêndio! Como nunca tinha visto um (pelo menos que eu me lembrasse), de repente, era como se eles estivessem entrando em contato comigo: "Olha para mim!" "Me enxerga!" "Aqui estou, bem na esquina!"

Foi uma coisa muito estranha, quase surreal. Eu corria normalmente e, de repente, um hidrante de incêndio! Depois do terceiro ou quarto, eu me lembrei que isso é igual ao velho exercício da PNL, onde pedimos que todos fechem os olhos e fazemos perguntas sobre a cor da parede da frente, a dos fundos, das laterais, que desenhos estão pendurados ou que palavras estão escritas nelas. A grande maioria não sabe. Então, apesar de que eles estavam de olhos abertos quando entraram na sala, eles não viram. Em seguida todos abrem os olhos e olham em volta da sala. Ao fecharem os olhos novamente, perguntamos sobre tudo que é azul na sala e eles abrem os olhos e vasculham a sala procurando todos os azuis. Depois fazemos a mesma coisa com o que é marrom, ou vermelho ou amarelo.

Nós fazemos isso para que fique claramente compreendido um ponto crítico sobre a percepção, ou seja, nós encontramos o que procuramos. A percepção não é feita só de estímulos não processados. A percepção, de fato, é composta 80% pela nossa mente e pelo estado interno. Literalmente, nós não enxergamos com os nossos olhos, nós enxergamos com o cérebro. 1

Você já notou isso? Já percebeu como você tende a encontrar tudo o que está procurando? Na verdade, esse fato neurocognitivo reflete um fator crítico de como o nosso cérebro funciona. Hoje em dia, as ciências cognitivas demonstraram repetidas vezes que nós não enxergamos com o olho, nós enxergamos com o cérebro e a mente, e o que nós vemos e percebemos na vida, nas outras pessoas, na nossa carreira, nos nossos relacionamentos, na criação da riqueza, etc., é muito mais sobre nós do que sobre o que está "lá fora".

  • Isso é assustador?
  • Você acha isso decepcionante?
  • O que isso significa para você?
  • Como você percebe isso?
  • Você se sente pessimista ou otimista sobre isso?
  • O seu copo está meio cheio ou meio vazio?

Tudo isso revela até que ponto que nós andamos pela vida como se tivéssemos filtros perceptivos colorindo o que enxergamos e como enxergamos. E de fato, isso é precisamente assim. Normalmente nós chamamos esses filtros perceptivos de "crenças, valores, entendimentos, intenções e perspectivas." O que controla esses filtros perceptivos e o que podemos fazer com eles? Ah, aí é onde começa a aventura, o poder e a diversão dos metaprogramas!

A percepção não é a realidade, mas ela cria a nossa realidade pessoal

Aqueles que não são muito exigentes pegam alguns desses fatos e chegam à falsa e improcedente conclusão de que "a percepção é a realidade". Alguns vão até mais longe e sugerem que não existe nenhuma realidade, apenas a percepção. Essas duas ideias são absurdas. 2

O que é real externamente certamente existe "lá fora" como o verdadeiro território além do nosso sistema nervoso e da capacidade de detectá-lo e de processá-lo. Se esse é o território, então o nosso mapa dele consiste de vários contextos de crenças, contextos de entendimentos, contextos de intenções, contextos de interesses, etc. Nós estabelecemos tendências dentro das nossas mentes que depois orienta e direciona a nossa percepção – é por isso que nós geralmente encontramos o que estávamos procurando. Desse modo, a percepção não é a realidade, não a realidade externa, mas a percepção cria sim a nossa realidade interna, a nossa realidade pessoal, a realidade subjetiva. Também é isto o que torna a percepção de extrema importância nas relações humanas, no marketing, nas vendas, na administração, na liderança, no coaching, na terapia, nas mudanças, no amor, etc.

Essa capacidade de definir uma tendência no nosso interior é o que cria a experiência que todos nós já tivemos com relação à compra de um carro novo. Assim que começamos a pensar em comprar um carro novo, e especialmente depois da compra, nós, de repente, vemos aquela marca e modelo em tudo que é lugar! De repente parece que nós temos olhos para enxergar. De repente esses carros parecem estar assaltando os nossos globos oculares como nunca antes.

Se nós "encontramos o que estamos procurando", então as perguntas mais pessoais e mais desafiadoras que eu posso apresentar são estas:

  • O que você está procurando?
  • Com o que você se preocupa?
  • O que você quer?
  • Com o que você conta e espera?
  • Em que você acredita?

Fazer essas perguntas sobre o que você está procurando e o que você é convida a todos para se voltarem para o seu interior e começarem a realmente explorar os seus filtros perceptivos. E se todos nós tivéssemos um determinado conjunto de lentes, uma espécie de óculos mental, como otimismo e pessimismo, o copo meio cheio ou meio vazio, seriam essas lentes que realmente criariam as nossas experiências, inclusive as nossas emoções e habilidades? E se os problemas e os sucessos que temos fossem tanto uma função dos nossos filtros perceptivos como o nosso talento bruto, o intelecto ou o aprendizado?

Se isso parece absurdo para você, faça a minha vontade e acompanhe só por um momento. Apenas suponha que o nosso senso da realidade e a nossa experiência do que sentimos como real seja uma função dos nossos filtros mentais, as nossas lentes perceptivas – não faria sentido se antes de investirmos tempo e energia para mudar o mundo exterior e as coisas que nós enxergamos que começássemos, antes de qualquer coisa, a procurar as nossas lentes mentais? Talvez seja a cor das nossas lentes. Talvez precisemos limpá-las de outras propriedades.

Afinal de contas, se você está contemplando o mundo das pessoas, dos eventos e até mesmo a si mesmo, e faz isso através de lentas sujas, o que você enxerga será diferente do que outra pessoa enxerga através de lentes limpas. E, a experiência cotidiana de experimentar algum evento juntamente com outras dez pessoas, todas com suas próprias percepções, pontos de vista, interpretações e sentimentos sobre o evento? O que isso ocasiona? E por que as testemunhas de um evento tão frequentemente se contradizem e falam como se elas tivessem testemunhado eventos diferentes? Não é como se cada um trouxesse o seu próprio filtro perceptivo para o evento? Um juiz tendencioso (por exemplo, qualquer ser humano), seja no tribunal, ou no carro do seu lado, ou na cama ao seu lado, é apenas isso – tendencioso.

Tudo isto significa o poder e a influência dos nossos filtros perceptivos. De tal modo que isso chama a atenção para a questão da personalidade, a exploração acerca dos tipos de personalidades e estilos, em como todos nós podemos diferir tão radicalmente um dos outros no que enxergamos e que, portanto, experimentamos. Na verdade, isso não é uma compreensão tão absurda depois de tudo. Todos nós conhecemos pessoas que parecem usar óculos escuros enquanto passam pelo mundo e que só enxergam coisas escuras, em termos sombrios. Nós também conhecemos aquelas que parecem ter óculos dourados e exalam um otimismo que, às vezes, parece um doce tão açucarado a ponto de ser repugnante. Também conhecemos aquelas que parecem só enxergar o vermelho e que ficam facilmente zangadas e prontas para brigar; aquelas que enxergam com o olho verde da inveja, o olho pálido do tédio, etc.

Explorando a percepção e a experiência

Tudo isso sugere que há uma relação muito estreita entre os nossos filtros perceptivos e o nosso estilo e as nossas experiências mentais, emocionais, comportamentais e relacionais. E há. Nós tendemos a encontrar o que estamos procurando. E o que nós determinamos que a nossa mente procure, tende a controlar as lentes perceptivas que nós desenvolvemos, e uma vez habituados, torna-se a maneira como nós fazemos o nosso estilo de personalidade. Assustador? Emocionante? Desalentador? Esperançoso? Novamente, isso depende dos nossos filtros perceptivos, não é? O que me leva ao campo que se especializa nessa área, o campo denominado de Metaprogramas. Metaprogramas são aquelas formas programadas de pensar, sentir, escolher e dar sentido ao que desenvolvemos, que quando repetidas e habituadas ao longo de um período de tempo tornam-se as nossas escolhas padrão. Neste sentido nós aprendemos a ver (perceber, pensar, calcular) a vida, o mundo, os outros e a nós mesmos de uma certa maneira e, depois de um tempo, aqueles contextos interpretativos são aceitos pelos nossos olhos como os nossos contextos perceptivos.

Então acontece algo ainda mais poderoso. Não apenas enxergamos o mundo através desses filtros, mas esses filtros operam como algo que atrai, magnetiza e auto-organiza todo o nosso sistema mente/corpo/emoção para manter em ordem essa maneira de enxergar as coisas. Na linguagem de sistemas, o filtro perceptivo torna-se uma atrator auto-organizante dentro da nossa personalidade. Como e o que nós percebemos, eventualmente influencia e forma o tipo de personalidade que nós desenvolvemos. Enxergar as coisas por meio da dúvida, da descrença e da rejeição cria o filtro pessimista que eventualmente cria a personalidade pessimista.

A pessoa que aprendeu a pensar em termos de possibilidades, franqueza, crescimento, mudanças e oportunidades eventualmente aprende a ver a carreira e os negócios nestes termos. Esses valores e formas de pensar tornam-se a lente perceptiva dela. E então, com bastante tempo e repetição, esses filtros perceptivos tornam-se a forma de ser dessa pessoa no mundo – o estilo da personalidade dela. O que começou como um pensamento torna-se o contexto da mente, torna-se um filtro perceptivo, torna-se o estilo da personalidade, torna-se a personalidade.

É assim tão simples, e também bem profundo. Também sugere uma conclusão verdadeiramente revolucionaria, ou seja, quando mudamos os nossos filtros, mudamos as nossas experiências e, no final, transformamos a nossa personalidade. Isso, de fato, é o que agora nós reconhecemos como a base comportamental cognitiva para a mudança e a renovação. Em outras palavras, se você não gosta do que está encontrando no mundo, o que você está encontrando nos relacionamentos, nos negócios, nas suas finanças, na sua saúde, na sua personalidade, etc., há algo que você pode fazer! Você pode mudar os seus filtros. 3

O seminário do filtro perceptivo

Agora em função disso tudo, suponha que você possa identificar, detectar, transmitir, mudar e transformar os filtros perceptivos das pessoas que você encontra na sua vida; suponha que você possa reconhecer os filtros do seu amado, parceiro, filhos, amigos, colegas, gerente, funcionários, compradores, clientes, público e, ou se comunicar com o conjunto de lentes deles ou convidá-los para ajustar e mudar a lente deles? Suponha que você possa, quase instantaneamente, reconhecer os filtros perceptivos que as pessoas usam no momento em que elas falam com você – imagine as vantagens que isso criaria!

  • Compreender a si mesmo e os outros mais corretamente.
  • Aprimorar a competência para se comunicar de modo persuasivo.
  • Reduzir os conflitos com pessoas difíceis de compreender ou difíceis de lidar.
  • Aprimorar a capacidade de fazer julgamentos corretos sobre as pessoas.
  • Fazer prognósticos mais corretos sobre os outros.
  • Aumentar a inteligência emocional sobre si mesmo e os outros.
  • Transmitir mais satisfação ao experimentar a riqueza dos outros.
  • Aumentar o controle das suas próprias reações em relação aos outros.
  • Aprimorar a capacidade de comprar, vender, negociar e fechar negócios.
  • Desenvolver uma maior flexibilidade no reconhecimento de padrões instantaneamente.

É tudo isso que torna tão importante os nossos filtros perceptivos e o dos outros. As lentes perceptivas explicam porque achamos difícil nos comunicarmos com certas pessoas, de conviver com elas e de entendê-las. No entanto, quando descobrimos que filtros uma pessoa está usando e como lidar com eles – nós, repentinamente, ficamos habilitados de uma forma quase inimaginável, não é verdade? Então, nós entendemos o que está acontecendo, que o problema não é a pessoa, mas o filtro, o contexto.

Fale sobre uma maneira saudável e não julgadora de olhar as coisas! Reconheça o fato comportamental cognitivo de que todos nós passamos pela vida com contextos mentais e filtros perceptivos que nos ajudam a reconhecer que "problemas" surgem não por nossa causa ou dos outros, mas por causa de uma lente particular que estamos usando. Isso é especialmente verdade se a pessoa usa um contexto de diferenças, um contexto de forte vontade, um contexto pessimista, um contexto com óculos dourados, etc. E ser capaz de falar para os outros sobre os filtros ou sobre as lentes deles como algo separado deles, nos permite trazer à baila "assuntos delicados" sem despertar uma atitude defensiva. Agora imagine isso!

Agora, se você acha que todo este campo de filtros perceptivos é algo novo, pense novamente. Há décadas que isso está disponível em várias escolas de psicologia e na metade dos anos 80 do século passado se tornou um campo da PNL chamado de Metaprogramas. Desde então, diversos livros foram escritos sobre a aplicação dos metaprogramas na terapia, nos negócios, na cultura, nos relacionamentos, no coaching, nos esportes, etc. 4

A boa notícia é que existem treinamentos sobre Metaprogramas em todo o mundo, treinamentos que aplicam esses filtros perceptivos para gerentes e chefes, para treinadores e terapeutas, para profissionais de vendas e de marketing, para advogados e médicos, para juízes e políticos, para os pais, namorados e amigos.

Resumo

  • Se os nossos filtros perceptivos ou metaprogramas são tão poderosos no sistema mente/corpo/emoção influenciando os nossos relacionamentos, a carreira, a saúde, a personalidade, etc., seremos mais capazes de detectar e trabalhar com eles, nos tornamos mais capacitados, seremos mais capazes de tomar conta da nossa própria vida e destino.
  • Como seres cognitivos e comportamentais ou mente/corpo/emoção, nós não temos escolha, senão criar os nossos filtros perceptivos. Na maioria das vezes, nós adotamos aqueles que estão a nossa volta e depois aprendemos mais alguns. Ainda que eles sejam aprendidos, eles podem ser mudados. Descubra como identificar e transformar os seus filtros perceptivos através do aprendizado do modelo dos metaprogramas. Você ficará contente por ter feito isso!

Sobre o autor

L. Michael Hall, Ph.D., psicólogo cognitivo, trainer internacional de PNL, empreendedor; criador dos Meta-Estados e cocriador da NeuroSemântica. www.neurosemantics.com

Notas de rodapé:

  1. Veja o artigo de Richard Bolstad na revista Anchor Point sobre como o cérebro e os olhos trabalham juntos para criar a visão e a percepção. Volume 18, Number 1, 2005.
  2. Leia "Perception is not Reality" de L. Michael Hall, 2004, no site www.neurosemantics.com
  3. Para uso extensivo e acadêmico dos metaprogramas, veja The Structure of Personality por Hall, Bodenhamer, Bolstad e Hamlett. Quatorze distúrbios de personalidade foram analisados em termos de linguagem, estados, níveis e filtros perceptivos que os fazem trabalhar como desordem de personalidade com sugestões para reordenamento.
  4. Livros sobre filtros perceptivos ou metaprogramas incluem A Terapia da Linha do Tempo (1987) de Woodsmall e James, Words that Change Minds (1997) de Shelly Rose Chaveret, Figuring Out People (1999) de L. Michael Hall e Bob Bodenhamer.

L. Michael Hall esteve presente no VIII CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE PNL - Rio de Janeiro-RJ em SET/2010 e inclusive ministrou o curso pré-congresso.

O artigo "Would you want to become your perceptions?" foi publicado na revista Anchor Point volume 19 - número 01.

Tradução JVF, direitos da tradução reservados.

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