O pensamento oriental e a PNL

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seg, 26/01/2004

Estudar o Budismo é estudar o eu.
Estudar o eu é esquecer o eu.
Esquecer o eu é reconciliar-se com os outros.

(Mestre Zen Dogen)

As Editoras brasileiras vem de lançar algumas obras comparando o pensamento ocidental, mais precisamente a psicologia e a filosofia ocidentais, com o pensamento oriental, especificamente o budismo tibetano. Uma das obras recentemente lançadas é "O monge e o filósofo", um debate entre Jean-François Revel, filósofo francês agnóstico que considera vã toda a metafísica, e Matthieu Ricard, doutor em biologia, - discípulo no Institut Pasteur do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina François Jacob, - que abandonou uma brilhante carreira científica para dedicar-se ao budismo como monge. É um debate belíssimo em que se descobre que a sabedoria budista na condição da vida tem muito de universal. O debate torna-se mais singular ao se verificar que o monge cientista é filho de Jean-François. A edição é da Mandarim, de São Paulo. O encontro realizou-se em 1996 no Nepal, e mostra ao leitor privilegiado como duas pessoas importantes "com entendimentos bastante diferentes sobre assuntos sérios e atuais" contribuem para o nosso enriquecimento pessoal. Na verdade, alguns conceitos e reflexões, como o corpo-mente, a relatividade das coisas, a aventura da mudança pessoal, os mapas mentais, a metáfora, as ressignificações, permitem ao pnelista uma aproximação do pensamento oriental com as pressuposições da PNL. Talvez isso explique o interesse incomum dos japoneses pela Programação Neurolinguística. Há algo de monismo vivencial na criação de Bandler e Grinder que se contrapõe ao dualismo do pensamento ocidental. Não foi por acaso que os criadores da PNL beberam com fartura nas ideias de Gregory Bateson, cuja fonte primordial foi o oriente e as tribos primevas de ilhas asiáticas, da Oceania e da América.

Outra obra que deve merecer a atenção do estudioso (e vivente) da PNL é "Pensamentos Sem Pensador" de Mark Epstein, lançamento da Gryphus, um selo da Editora Forense, Rio de Janeiro. O prefácio é do Dalai Lama e o subtítulo de certa forma sintetiza o conteúdo da obra: "Uma perspectiva budista para a psicoterapia". O autor é/foi psicanalista e já na introdução -- Batendo à Porta de Buda -- a gente descobre como a Programação Neurolinguística identifica-se com algumas técnicas teórico-práticas da psicologia budista tibetana. Como os pressupostos, "o mapa não é o território", "as experiências possuem uma estrutura", "Se uma pessoa pode fazer algo, todos podem aprender a fazê-lo também", "Corpo e mente são partes do mesmo sistema", "As pessoas já possuem todos os recursos de que necessitam", etc. etc. encontram contrapartidas na leitura aberta do budismo: "a dimensão essencialmente psicológica da experiência espiritual budista". Na roda da vida budista encontramos suposições de que as causas do sofrimento são também os meios para se encontrar o alívio, ou como propõe a PNL, nós somos responsáveis pela nossa própria motivação e podemos ressignificar experiências negativas do passado que possam travar nosso desenvolvimento. A meditação, também, muito mais que um refúgio místico, é um exercício para se criar mudanças, para se ver, ouvir e sentir, o mapa do mundo, com ecologia, com muito mais criatividade. Robert Dilts, Maria Ana Chrem, Allan Ferraz Santos Jr., José Carlos Mazzilli, para citar professores com quem vivenciei essa experiência, iniciam seus cursos de PNL com meditação e relaxamento, técnicas cujas bases primordiais estão calcadas no pensamento oriental, principalmente no Hinduísmo, no Budismo e no Taoismo.

No Budismo primitivo, aliás, os Cinco Agregados (Shandhas) constitutivos do homem correspondem a cinco elementos do processo cognitivo: formas, percepções, imagens mentais, vontade, e consciência. O enunciado enquadra-se perfeitamente com a PNL. Pois o Budismo, assim como a PNL, ao traçar caminhos para melhor conhecer a nós mesmos, enfatiza a impossibilidade de decifrarmos quem ou o que somos, quer dizer propõe mapas (processos) e não territórios para a nossa segurança existencial.

A fé na dúvida, proposição de um mestre Zen, me lembra muito as afirmações de Bandler de que devemos ser céticos com relação aos enunciados da PNL -- mas que devemos experienciar os exercícios para ver o que acontece. Leiam os dois livros para ver, ouvir e sentir o que acontece.

Artigo publicado no Golfinho Impresso Nº44 de SET/98

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