Resolução da Perda - Revisado

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qua, 18/03/2009

Introdução

Nós estamos ensinando o processo de resolução da perda nos treinamentos de Master Practitioner desde que o desenvolvemos há cerca de quatorze anos. O livro "A Essência da Mente" (1) fornece uma introdução para esse processo, e um exemplo é fornecido na demonstração em vídeo da Resolução da perda (2) feito por Connirae. Esse processo é, algumas vezes, muito útil, visto que o efeito de vazio e de tristeza em reação à perda de uma pessoa querida é algo que todos irão experimentar em algum momento da vida, e algumas pessoas experimentarão muitas perdas significativas. Muitas vezes, a perda não resolvida é um dos principais fatores não reconhecidos no amplo conjunto de outras dificuldades e que leva as pessoas a procurarem terapia, incluindo a falta de motivação, a depressão, as doenças crônicas e as crises da meia idade.

Quando, pela primeira vez, nós decidimos modelar a reação à perda, nós comparamos as experiências de pessoas que foram, particularmente, bem-sucedidas em lidar com perdas significativas, com as experiências daquelas que ainda estavam experimentando tristeza e sofrimento e que tinham tido dificuldades para continuar com suas vidas depois de uma perda.

Nós descobrimos que todas aquelas que estavam sofrendo – seja há pouco ou há muito tempo – fizeram algo que pode ser enquadrado num dos dois aspectos seguintes:

1. Recordação do término. Muitas vezes elas cometem o erro de recordar o término do relacionamento em vez da ligação afetuosa em si. Por exemplo, elas podem se recordar da última discussão acalorada que levou ao rompimento, ou ao desgastante processo de divórcio, a horrível doença terminal ou quaisquer outros eventos desagradáveis que resultaram no término do relacionamento em vez do relacionamento afetuoso em si.

Mesmo quando elas recordam desse evento de uma maneira dissociada, como se fosse visto numa tela de TV, os sentimentos são desagradáveis no lugar da ligação afetuosa. Muitas pessoas recordam esses eventos como se eles estivessem acontecendo aqui e agora, com uma intensidade totalmente desagradável, como ocorreu no evento original. Esse término do relacionamento não é a experiência preciosa pela qual a pessoa está sofrendo, e esse erro comum torna impossível experimentar os sentimentos afetuosos especiais que ela tinha com a pessoa perdida.

Quando alguém recorda o término, uma das primeiras etapas do processo é pedir para que ela pense sobre o que amava e apreciava no relacionamento perdido, em lugar do fim do relacionamento. Isso é uma solicitação para o cliente mudar o conteúdo da sua representação.

2. Dissociação. Outras pessoas recordam o relacionamento afetuoso, mas de um modo distante, isolado, ausente ou irreal, resultando num sentimento de vazio, em vez da plenitude que a pessoa experimentava no relacionamento afetuoso. Existe uma variedade de modos que representam internamente o que está isolado ou dissociado. Você pode fazer a imagem da pessoa a uma grande distância, ou pode se ver com a pessoa perdida, os dois divertindo-se juntos. Você pode ver a marca afundada no colchão da cama embora esteja vendo que não existe ninguém lá, ou a imagem da pessoa amada pode aparecer transparente, indistinta ou como um fantasma, etc. Um homem teve um relacionamento que ocorreu, na maior parte das vezes, pelo telefone. Depois que essa pessoa morreu, ele ainda podia ouvir a voz dela, embora tivesse um som "metálico" como se fosse gravada, significando que era irreal.

Com todos esses modos diferentes de representar a pessoa como distante e isolada, os bons sentimentos de estar junto a essa pessoa estarão perdidos. Só existe um sentimento de vazio e isso causa a tristeza e o sofrimento.

Resignação

Quando entrevistamos as pessoas que disseram que tinham lidado com as suas perdas com sucesso, nós descobrimos que um bom número delas continuava a viver suas vidas, porém, muitas vezes, com um sentimento de resignação ou com uma discreta frustração. Quando pedimos para elas pensarem na pessoa perdida, muitas vezes suspiravam, seus ombros caíam ligeiramente e sua respiração se tornava mais superficial. Algumas até diziam "Eu estou bem", porém com uma tonalidade de voz um pouco elevada e forçada. Embora isso seja melhor do que desatar num choro incontrolável estava claro que a perda não estava resolvida. Haviam "tratado" dela somente para que ficasse sob controle e assim não se intrometesse no dia a dia delas.

Reação positiva contra a perda

Entretanto, existiam outras pessoas que haviam lidado com suas perdas de uma maneira muito mais positiva e proveitosa. Quando perguntávamos a elas sobre a perda, muitas vezes aparecia um sorriso e um ar tranquilo no rosto, um suave levantar dos ombros e uma respiração mais profunda. Elas podiam falar sobre a pessoa perdida com ternura, carinho e alegria. Uma mulher disse "Quando eu penso no Joe, é como se ele estivesse aqui comigo. Se eu estou no supermercado escolhendo laranjas, ele está ali comigo me ajudando a escolher as melhores, como ele fazia." É claro que esse tipo de reação é muito mais agradável, e fornece um acesso fácil para todos os sentimentos especiais que ela teve com a pessoa que agora se foi. Essas foram as pessoas que nós estudamos para descobrir como elas podiam estar congruentemente alegres apesar da perda significativa.

Quando perguntamos a elas como pensavam sobre a pessoa perdida, descobrimos que, literalmente, todas pensavam como se ela ainda estivesse presente, e isso lhes dava acesso a todos os bons sentimentos que tinham tido durante o relacionamento real. Existem muitas maneiras de fazer isso. Muitas vezes as pessoas simplesmente pensam na pessoa perdida como se ela estivesse próxima, em tamanho natural e em três dimensões, movendo-se e respirando, e capaz de oferecer tanto uma conversação verbal como reações não verbais, como se ela estivesse fisicamente viva e presente no mundo real. Algumas representam a pessoa perdida como se ela estivesse fisicamente presente no seu coração, ou no peito, ou, de alguma maneira, presente em todo o seu corpo. Outra sentia a pessoa perdida como se fosse algo que envolvia confortavelmente todo o seu corpo. Outras tinham diferentes maneiras de representar a pessoa perdida, porém todas elas possuíam um forte sentimento de que a pessoa perdida estava presente integralmente com elas nesse momento, e que era fácil entrar em contato.

"Constância do objeto"

Quando pensamos um pouco sobre isso, percebemos que essa maneira de recordar a pessoa perdida não é realmente diferente do que a maioria de nós faz, quando alguém que nós amamos, está fisicamente ausente por um curto período. Pense agora em alguém, muito especial para você num relacionamento atual, mas que neste momento não está fisicamente perto, e note como você a representa em sua mente. Que imagens, sons, vozes e sentimentos você utiliza ao pensar naquela pessoa?

Quando eu (Steve) faço isso com Connirae que, neste momento está na cidade fazendo compras, ela está de pé do meu lado esquerdo, em tamanho natural e respirando, e ela parece presente para mim, como se ela realmente estivesse na mesma sala, e assim os bons sentimentos que eu tenho com ela estão disponíveis para mim sem dificuldade. Embora seja possível que ela tenha morrido num acidente de carro, ou fugido com outro homem, eu posso representá-la como se o relacionamento ainda existisse, e desfrutar de todos os sentimentos afetuosos que fazem parte deste relacionamento. Os psicólogos chamam essa capacidade de "constância do objeto" e os princípios usados no processo de resolução da perda também podem ser usados para ensinar essa habilidade.

Ansiedade da separação

A constância do objeto é uma habilidade que as crianças pequenas ainda não aprenderam. Quando a mãe sai é como se ela tivesse ido embora para sempre, e a criança pequena chora inconsolavelmente, no que muitas vezes é chamado de "ansiedade da separação". Felizmente, a maioria das crianças também é incapaz de se manterem conscientes, por muito tempo, da imagem da saída da mãe e são facilmente distraídas por outros acontecimentos. Leva algum tempo para a criança aprender como manter uma imagem associada da mãe com ela, pois assim ela pode reter a sensação de conforto e de segurança do relacionamento quando ela sai por um curto espaço de tempo.

Como mostramos acima, se uma pessoa pensa em alguém como presente ou ausente independe da "realidade", e também se um observador poderia dizer se ali existe ou não um relacionamento. Depende somente de como a pessoa representa a pessoa amada na sua mente, e essa é a chave para o processo de resolução da perda.

A essência desse processo é ensinar essa importante habilidade para quem está sofrendo a perda de alguém que agora é representado como isolado e perdido. Já que existem várias maneiras de como, precisamente, um indivíduo representa alguém que tanto pode estar perdido como presente, nós temos que, primeiro, reunir informações para descobrir exatamente como essa pessoa em particular faz isso.

Reunindo informações

Perguntamos para alguém que está sofrendo para pensar primeiro sobre alguém em especial que está presente na sua vida (apesar de não estar presente fisicamente no momento, e que também pode estar morto ou ter ido embora para sempre), e depois sobre a pessoa por quem ele está sofrendo. Então pedimos que ele pense, ao mesmo tempo, nas duas pessoas, e solicitamos que ele note as diferenças no processo de submodalidades entre elas. A perda, de algum modo, será representada tipicamente como distante e isolada, e com uma sensação de vazio emocional, enquanto o relacionamento existente será representado por uma sensação de presença e de plenitude emocional.

Tipicamente, existirão diferenças, muito importantes, na localização dessas representações no espaço pessoal. Por exemplo, uma pode estar perto, à esquerda e grande, etc., enquanto a outra estará mais afastada, à direita e menor, etc. Existirão, habitualmente, muitas outras diferenças. Uma imagem pode estar mais brilhante do que a outra, ou mais colorida, ou movendo-se, outra pode estar quieta enquanto a outra tem sons e vozes, etc. Todas essas diferenças são completamente independentes do conteúdo das representações. Uma vez conhecidas essas diferenças, é bastante simples o processo para transformar uma situação de vazio e de sofrimento numa de plenitude e de alegria.

Habitualmente, utilizar a imagem da experiência da perda e movê-la para o local da experiência da presença é tudo que é necessário para transformar a perda em uma experiência de presença sentida. Normalmente as outras diferenças em brilho, cor, movimento, etc., vão mudar espontaneamente quando o local muda. Se esses outros parâmetros não mudarem espontaneamente, nós simplesmente pedimos ao cliente para mudá-los até que a experiência da perda esteja totalmente transformada numa experiência de presença.

Quando essa transformação estiver completa, ela irá recuperar os bons sentimentos que tinha para com a pessoa perdida. Muitas vezes, quando isso ocorre, o cliente chora, mas essas lágrimas são muito diferentes se comparadas com as lágrimas da perda. Essas são lágrimas de reencontro com os sentimentos perdidos, e é importante permitir que o cliente use o tempo que for necessário para experimentá-las plenamente.

Ressignificando as objeções

A maioria das pessoas fica muito contente ao ser capaz de transformar seu sofrimento para uma religação com a experiência perdida, mas algumas terão objeções. Antes de continuar, é muito importante respeitar essas objeções, e descobrir qual a intenção positiva de cada objeção. Uma vez conhecida a intenção, a tarefa é descobrir uma maneira para que a transformação também não interfira com a intenção da objeção, ou até mesmo forneça um amparo melhor do que o sofrimento. Aqui estão alguns exemplos:

1. "Eu não quero dizer adeus." "Eu concordo plenamente com você. Muitas pessoas têm uma noção errada de que elas têm que dizer adeus para poderem parar de sofrer, mas é exatamente o oposto. O que é necessário é dizer alô de novo e restabelecer a ligação afetuosa que você já teve com esta pessoa."

2. "Se eu experimentar a sensação de que a pessoa perdida está aqui comigo, as pessoas vão pensar que eu estou louco." "Nós certamente não queremos que isto aconteça. Mas eu penso que isto somente seria um problema se você falar isto em voz alta. Durante a sua vida você pensa nelas, e talvez até mesmo tenha mantido conversas internas com elas – eu sei por que eu faço isso – sem que elas tenham a mínima ideia do que estava se passando na minha cabeça."

3. "Se eu experimento a pessoa perdida como estando aqui comigo, isso, na realidade, pode interferir no meu relacionamento com as outras pessoas." "Nós certamente não queremos fazer nada que possa interferir na maneira como você se relaciona com as outras pessoas no presente. Eu penso que você vai concordar que a sua preocupação com o pesar pela pessoa perdida tem tido uma grande interferência no seu relacionamento com as outras pessoas. Por outro lado, a maneira como você pensa nos seus amigos lhe dá um sentido de ligação que, normalmente, ajuda a sua ligação com os outros quando isto é apropriado, e eu posso lhe prometer que pensar na pessoa perdida irá funcionar da mesma maneira. E naturalmente, se eu estiver errado, nós sempre poderemos voltar para a maneira como está hoje."

4. "Sofrer é uma maneira de reverenciar os mortos." "Eu encorajo inteiramente esse seu desejo de reverenciar a pessoa perdida e o pesar é certamente uma expressão da intensidade dos seus sentimentos. Por outro lado, pode existir melhor maneira de reverenciar essa pessoa do que ela ser carregada alegremente no seu coração pelo resto dos seus dias?"

"Se você morrer amanhã, você gostaria que as pessoas que você ama ficassem sofrendo e infelizes, ou que se lembrassem de você alegremente com sentimentos plenos de amor e apreciação pelas suas qualidades especiais enquanto elas continuam com suas vidas? Qual a maneira que você pensa que a pessoa que você perdeu iria preferir?"

5. "Bem, eu acho que seria ótimo eu fazer isto, mas se eu ficasse feliz com respeito à pessoa que se foi, minha família e meus amigos pensariam que eu não me importava com ela." "Você quer ter certeza que aqueles ao seu redor não lhe interpretem mal. Você tanto pode explicar em detalhes o que você está experimentando, e oferecer a elas o mesmo tipo de escolha que eu estou lhe oferecendo, ou você pode simplesmente colocar um rosto triste nas horas apropriadas, para se encaixar na ideia deles de como você deveria estar reagindo."

Qualquer que seja a objeção, nós assumimos que ela esteja baseada numa intenção positiva e vantajosa com o qual a pessoa está preocupada, e a nossa tarefa será descobrir uma maneira para que a pessoa possa prosseguir com o processo de resolução da perda, confiante de que a objeção será inteiramente respeitada, e suas intenções positivas preservadas.

Resumo da Resolução da perda

Parte I: Reencontro com a experiência perdida

Quem está sofrendo pela perda de alguém representa, tipicamente, a pessoa perdida como separada dela no passado. A parte I do padrão da perda recupera essa experiência perdida para que ela se torne um recurso associado que será plenamente experimentado no presente. As etapas a seguir foram escritas como instruções para você aprender esse processo, sozinho e/ou trabalhando com alguém.

Etapa preliminar: encontre um estímulo para "interromper o estado". Se a pessoa está chorando ou deprimida, etc., você precisa encontrar uma maneira para mudar esse estado para um mais adequado antes de tentar iniciar o processo. Mesmo que o cliente inicie o processo num bom estado, ele pode passar para o sofrimento quando você iniciar as primeiras etapas do processo, e por isso, mais tarde, você pode precisar interromper o estado de novo. Pedir para o cliente ficar de pé e caminhar pela sala, introduzir uma distração que o surpreenda, ou perguntar a ele sobre uma experiência plena de recursos ou de competência, etc., normalmente será suficiente para interromper o estado.

1. Perda (ausência/vazio). Pense em uma experiência escolhendo uma das duas opções seguintes:

a. Uma perda verdadeira como a que você está sofrendo e sobre a qual você tem um sentimento de vazio ou de ausência, ou uma perda com a qual você ainda não conseguiu lidar. "Pense agora na pessoa pela qual você está sofrendo, ou numa perda não resolvida que faz você ficar inconfortável quando pensa nela." Tenha certeza de que a representação é aquela que você valorizava e que você não queria perder, não é a perda do relacionamento. Por exemplo, se o seu filho morreu de câncer, e você recorda da criança enfraquecida e em coma pouco antes de morrer, provavelmente não é isto que você está se lamentando não ter mais. O que o conduz para o sofrimento é o que você valorizou e agora perdeu – as risadas e as brincadeiras da criança, as qualidades especiais, a promessa de futuro, etc. Se a pessoa que só vê uma criança doente ou um caixão perguntar "Como você sabe que algo valioso foi perdido?" ou "Como você sabe que vale a pena sofrer com isto?", até ela pensa na experiência valiosa, e não na sua negação. Esta etapa é extremamente importante, pois o modelo não irá funcionar sem ela, e qualquer tentativa de prosseguir com o processo lançará o cliente num dissabor desnecessário.

b. Uma perda potencial que você espera nunca acontecer, mas se acontecer, você gostaria de estar preparado. "Pense em alguém que é muito querido para você e represente esse relacionamento especial, mas perdido e desfeito para sempre." Você pode imaginar que acabaram de lhe dizer que essa pessoa morreu recentemente num acidente de carro, e pode usar esta representação. Se você escolher essa opção, você estará fazendo um "pré-sofrimento", programando uma reação benéfica para uma possível perda futura.

Calibração. Enquanto a pessoa acessa a experiência da perda, repare em todas as reações não verbais que você puder observar na respiração dela, na postura, nas expressões faciais, etc., porque assim, mais tarde no processo, você poderá reconhecer quando a mudança ocorreu e perceber se esse estado voltar a ocorrer.

2. Presença (plenitude). "Agora pense em uma experiência de uma das seguintes opções":

a. Uma perda experimentada como presença. "Pense sobre uma experiência positiva de uma perda que ocorreu e que você não sente como uma perda. Apesar de que ela está morta ou se foi, você sente a pessoa perdida como ‘ainda com você’ de uma maneira positiva e ativa. Você ainda pode sentir todos os bons sentimentos que você tinha com esta pessoa especial. Você tem um sentimento vivo da presença ou da plenitude quando você pensa nessa pessoa, como se ela não estivesse perdida para você."

b. Alguém com quem você se importa, mas que não está presente no momento. "Pense em alguém que normalmente está acessível na sua vida, mas que não está fisicamente presente nesse momento enquanto você pensa agora sobre ela. Por exemplo, você tem um grande amigo, uma esposa ou um filho que está distante no momento. Mesmo quando você pensa sobre essa pessoa, você experimenta ele/ela com você como um recurso presente. Muitas pessoas podem pensar com facilidade num exemplo como esse. Mesmo para alguém que é muito isolado socialmente, existem algumas experiências breves de relacionamentos afetuosos." (E se você não conseguir descobrir nenhum, você pode ajudá-lo a criar uma.)

Advertência. Se você usar essa opção, seja muito cauteloso sobre pressuposições que podem estar ligadas a essa experiência e que podem não serem apropriadas, tal como - esta pessoa poderá sempre ser contatada de novo no mundo real. Você pode dizer "Nós estamos somente usando essa experiência para descobrir que você já sabe como representar alguém como presente com você, e assim você pode aprender como recuperar os sentimentos que teve nesta experiência perdida. Nós dois sabemos que você não será mais capaz de contatar no futuro com esta pessoa perdida na vida real, do mesmo modo que você pode fazer com alguém que ainda está na sua vida".

Calibração: repare em todas as reações não verbais que distinguem esse estado da experiência anterior de perda. Mais tarde você irá usar essas reações para verificar se a perda foi transformada com sucesso em presença.

3. Análise comparativa. "Compare essas duas experiências internas de perda e de presença, a fim de reparar nas diferenças do processo em como você pensa sobre elas. Quando você pensa sobre a experiência da perda, o que você vê/ouve/sente (palpável)? Quando você pensa sobre a experiência da presença, o que você vê/ouve/sente (palpável)?" O local dessas duas representações no espaço pessoal da pessoa é particularmente importante, e pode ser realmente a informação que você necessita. (Se a pessoa está numa angústia considerável, vá direto para a etapa 5.) Faça uma lista de todas as diferenças no processo das submodalidades entre as duas experiências. Por exemplo, a perda pode estar dissociada, imóvel, como uma foto em preto e branco, enquanto a presença está associada em um filme colorido, etc. Observe especialmente as diferenças entre filme e foto, associação e dissociação.

4. Teste as diferenças de submodalidade (opcional). Normalmente tudo o que realmente se precisa é o local das duas representações no espaço, porém algumas vezes é conveniente conhecer as outras diferenças, pois elas podem dar informações úteis para serem verificadas mais tarde, bem como uma base experimental valiosa para ser utilizada com outros clientes.

Tente mudar cada uma das diferenças nas submodalidades da sua lista, uma de cada vez, para modificar a experiência perdida e fazê-la similar à experiência da presença. Por exemplo: "Olhe atentamente a fotografia, e permita que ela se desdobre num filme contínuo do que aconteceu antes e/ou depois da fotografia. Quando a fotografia se transformar num filme, observe em que extensão isto muda o seu sentimento de perda para um sentimento de plenitude." Mude de volta cada submodalidade antes de testar a próxima. No exemplo dado, você podia ter feito o filme da perda retroceder para uma foto antes de trocar o preto e branco por cores. Descubra quais as submodalidades são mais poderosas para reduzir o sentimento cinestésico da perda e aumentar o sentimento da presença. Se você descobrir que mudando uma submodalidade automaticamente muda outras submodalidades da sua lista, isto é uma indicação de que ela é uma das mais poderosas, por isso a chamamos de "condutora".

5. Verificação da congruência. "Você tem alguma objeção de mudar a sua experiência dessa perda, de forma que você experimente esta pessoa como sendo um recurso presente? Algum membro da sua família poderia desaprovar você parar de sofrer pela perda agora?" Satisfaça qualquer/todas as objeções antes de prosseguir, principalmente através da ressignificação do conteúdo, como discutido anteriormente.

6. Transformação. Mude a experiência da perda para uma de presença e plenitude, começando com a submodalidade mais poderosa que você identificou. Normalmente, será suficiente mudar o local da imagem da perda para o local da imagem da presença, e todas as outras diferenças irão espontaneamente mudar. "Permita que a imagem da pessoa perdida se mova para o lugar da imagem da presença." Porém, ocasionalmente, também é útil sugerir fazer outras mudanças. "Enquanto esta imagem se move para este outro local você, provavelmente, irá perceber que a imagem também fica do tamanho natural e em três dimensões, a cor mudará para tons pastéis, etc." Normalmente o conteúdo da representação permanece o mesmo. Entretanto, há vezes em que o conteúdo pode mudar espontaneamente, ou precisa ser ajustado a fim de combinar com a estrutura da presença.

Enquanto a pessoa faz as mudanças, normalmente existirá um relaxamento e uma suavização da postura e do rosto e, muitas vezes, lágrimas. Normalmente são lágrimas agradáveis de reencontro, e isso é um sinal muito bom de que a transformação da experiência da perda ocorreu de um modo poderoso. Entretanto, como eu não posso sempre dizer a diferença entre lágrimas de reencontro e lágrimas de sofrimento, eu sempre pergunto para ter certeza. "Eu preciso verificar algo com você, existem lágrimas de tristeza quando algo está perdido, e existem lágrimas de reencontro quando algo é recuperado. Eu penso que o que você está experimentando agora sejam as lágrimas de reencontro, certo?" Se elas realmente forem lágrimas de tristeza, isso significa que deixamos escapar algo nas etapas anteriores, e é necessário retornar uma ou duas etapas para determinar o que está incompleto, e finalizar antes de prosseguir.

7. Teste. "Pense agora sobre a experiência da perda. Você a sente como um recurso do mesmo modo como a experiência original da presença? A nova representação da perda está agora igual a da presença, em termos de submodalidades?" Observe as reações não verbais da pessoa para ver se acompanha a calibração que você fez na experiência original da "presença" (etapa 2). A direção do olhar fixo é normalmente uma indicação muito boa se ele/ela está pensando sobre a experiência da perda ou da presença, mas podem existir outras diferenças que lhe darão a mesma informação. Se ainda existirem diferenças, identifique-as e use-as para completar a mudança. Ocasionalmente poucas diferenças irão permanecer entre a experiência original da presença e a nova representação do que foi previamente uma perda. Contanto que a pessoa a sinta como uma presença inteiramente poderosa, ela não precisa ser uma combinação perfeita.

Parte II: Reconectar-se com o mundo

A parte I utiliza todos os recursos internos e códigos que a pessoa já usa para transformar uma experiência de algo perdido no passado em um recurso experimentado no presente. As estratégias naturais de algumas pessoas para superar a perda não incluem programá-las para procurar experiências apropriadas no mundo real para repor as que foram perdidas. É possível que elas possam sentir-se bem com seus recursos internos, e só queiram ficar sentadas num quarto pelo resto da vida. A parte II é derivada das estratégias mais efetivas para superar uma perda, e assegura que a pessoa irá efetivamente procurar novas experiências apropriadas no futuro.

1. Acesse a experiência valiosa. "Utilize a experiência valiosa que você acabou de transformar de perda para presença e plenitude, e represente-a de alguma maneira que seja natural e mais fácil para você agora."

2. Identifique os valores/objetivos. "Mantendo esta representação na mente, identifique e represente num local diferente as qualidades, os aspectos, os valores e os objetivos desta experiência que a faz valiosa e especial para você. Por exemplo, se você perdeu um bom amigo, talvez você valorizasse esta amizade porque sentia que só podia ser você mesmo com esta pessoa, ou porque você gostava do senso particular de humor bizarro que ele tinha. Pense nas qualidades especiais do relacionamento que você tinha com essa pessoa - amor, conforto, estabilidade, ternura, humor, espontaneidade, ou qualquer outra coisa que era muito especial para você nas experiências que você compartilhou com essa pessoa. Eu quero que você pense nas qualidades que tornaram esse relacionamento valorizado. Faça a você mesmo a pergunta: ‘O que este relacionamento me dava que era tão valioso’"?

Enquanto essas instruções são dadas, pode ser útil gesticular em primeiro lugar para o local no espaço onde a pessoa representa a presença, e depois para um local distinto, no quadrante do campo visual no qual a pessoa constrói as imagens (normalmente acima e a direita).

3. Transformação. "Se esse tipo de experiência, com essas qualidades ocorrer no seu futuro, que forma ela pode tomar? Como você poderia experimentar essas qualidades e satisfazer esses objetivos de maneiras diferentes com outras pessoas no futuro, considerando a sua idade atual e a sua situação de vida, etc.? Preservando essas qualidades, valores ou objetivos, permita formarem-se representações adicionais (gesticulando agora para outro local, também no quadrante visual construído) que são apropriadas para quem você é agora e para o futuro. Essas representações serão, provavelmente, um pouco diferentes das experiências que você teve no passado, a fim de ser congruente com quem você é agora e o que está disponível realisticamente para você agora e no futuro. Essas representações devem ser atraentes e convincentes, mas como outras representações futuras, elas não devem ser muito específicas; devem ser um pouco vagas e não claras, permitindo uma variedade de possibilidades e a inevitável incerteza do futuro."

4. Verificação da congruência. "Você tem alguma objeção em ter esse tipo de experiência ou procedimentos como parte do seu futuro?" "Poderia alguém mais na sua vida ter alguma objeção com isso?" Objeções nesse ponto são raras, mas se existir alguma, simplesmente retroceda para ajustar as representações de uma maneira apropriada, e/ou ressignifique para satisfazer toda e qualquer objeção antes de continuar.

5. Colocando as novas experiências no futuro. "Agora eu quero que você tome essa imagem e primeiro faça-a brilhar; depois a multiplique numa pilha como um baralho de cartas. Conforme as cartas se multiplicam, cada uma se tornará, espontaneamente, um pouco diferente, cada uma será uma possibilidade diferente para ter esse tipo de experiência no futuro. Depois arremesse essas cartas para o seu futuro para que elas se espalhem e caíam em muitos lugares diferentes. Quando tiver terminado, você verá inúmeros pequenos pontos de luz cintilando que indicam onde cada carta aterrissou no seu futuro, puxando-o para frente." (comentário: obrigado a Robert McDonald por esse adorno especial.)

Comentários

Perdas Traumáticas. Algumas perdas estão misturadas com o choque traumático de um súbito acidente de carro ou o dissabor de uma doença terminal. Neste caso é crucialmente importante separar a experiência valorizada perdida da maneira traumática em que foi perdida, e tratar essas duas experiências de um modo diferente. "Olhe, a perda que você experimentou é muito diferente do modo como ocorreu a perda. Você está sofrendo pela pessoa, não pelo acidente de carro que causou a morte dela. Agora eu quero que você separe a relação afetiva e o modo como ela terminou em dois locais diferentes (gesticulando para dois lugares diferentes no espaço)." Primeiro use a cura da fobia/trauma (1 – capítulo 7) com o desprazer, e depois use o processo da resolução da perda para a perda.

Raiva e ressentimento. Se existir raiva ou aborrecimento significativo, isso irá interferir com a resolução da perda, e por esta razão é importante resolver isso primeiro, usando o padrão do perdão (3).

Outras aplicações

Conteúdo diferente. Apesar de que a perda é normalmente pensada como a perda de uma pessoa querida ou de um relacionamento, perdas também podem envolver a perda de alguma coisa, uma atividade, um local ou uma informação (as outras quatro categorias do que foi chamado de "metaprograma de conteúdo/escolha"). Para algumas pessoas a perda de um anel estimado, a perda da capacidade de praticar um esporte por toda a vida, a perda da casa da família, a perda de memórias especiais ou outra informação pode ser tão grave como a perda de uma pessoa querida. Muitas vezes, uma perda envolve simultaneamente diversas outras - a perda de uma pessoa também pode resultar na perda da atividade e das coisas que eram compartilhadas, o local em que ocorria essa atividade, etc. O mesmo modelo funciona igualmente bem com qualquer dessas perdas, contanto que o principal conteúdo no recurso da presença combine com o conteúdo da perda.

Perda do self. Sempre que uma perda ocorrer no mundo, também existe o potencial para a pessoa experimentar uma perda do self. Alguém que perde o emprego também pode perder o senso de si mesmo como um empregado valorizado; alguém que perde um filho pode perder o seu próprio senso como pai e guardião. O modelo da perda trabalha igualmente bem com esse tipo de perda, mas é respeitoso reconhecer esse aspecto de uma perda, a qual algumas vezes pode ser mais importante do que outras.

Perda de um sonho. Algumas pessoas irão sofrer profundamente tanto por algo que elas nunca tiveram como por algo que elas tiveram e depois perderam. Uma mulher que sempre sonhou em ter filhos e descobriu que não pode, ou um homem que tinha sonhado com o sucesso na empresa e se encontra num cargo sem futuro, podem sofrer tão severamente como alguém que perde um filho ou uma elevada posição na empresa. Ainda que na realidade a pessoa nunca tenha tido o conteúdo do sonho, ele era tão real nas suas mentes que a compreensão de que ele não irá ocorrer pode provocar uma mágoa severa. Mesmo alguém que realmente atinge seu sonho de sucesso, muitas vezes descobre que não era isso na realidade o que ele esperava, e ainda pode experimentar esse tipo de perda. Muitas vezes essa perda de um sonho é descrito como a "crise da meia idade".

Um sonho é normalmente pensado como sendo algo futuro, mas também pode ocorrer no passado. Alguém que sofreu de abusos na infância pode imaginar, de uma maneira muito intensa, uma família amorosa e protegida a qual ele nunca teve. O processo de resolução da perda também funciona muito bem para resolver esse tipo de perda.

A pré-perda pode prepará-lo para uma perda futura. Você imagina que perdeu um relacionamento atual, e segue através do mesmo processo. Isso é particularmente útil para amigos e parentes de pessoas com doença terminal. Muitas vezes os amigos de uma pessoa que está morrendo, estão tão perturbados com a perda iminente que eles não conseguem fazer bom uso do pequeno tempo que ainda lhes resta com a pessoa doente. E, algumas vezes, a pessoa que está morrendo se descobre cuidando emocionalmente das pessoas saudáveis que estão a sua volta!

A pré-perda é também muito útil para relacionamentos que são excessivamente dependentes. Ela pode libertar um relacionamento em andamento de um comportamento pegajoso que, muitas vezes, está baseado no medo da perda futura. O processo de pré-perda também é particularmente apropriado para a "perda ambígua" na qual alguém desapareceu e está presumivelmente morto, porém ainda pode estar vivo.

O processo de resolução da perda é útil numa variedade de situações, muito além do motivo para o qual foi originalmente criado. Muitas pessoas estão perturbadas por perdas não resolvidas, e podem não ter ideia de que essas perdas estão envolvidas com os problemas que as afetam. O resultado do uso do processo de resolução da perda pode ser profundo e surpreendente, afetando muito a vida de alguns. Pode ser útil simplesmente perguntar ao cliente sobre perdas não resolvidas e tratar delas, mesmo quando o problema que se apresenta é muito diferente e que, aparentemente, não está relacionado com uma perda.

Referências

  1. A Essência da Mente de Connirae e Steve Andreas. Summus Editorial
  2. Andreas, Connirae. Resolving Grief (videotape) Lakewood CO, NLP Comprehensive.
  3. Connirae e Steve Andreas. O Padrão do Perdão.

Steve Andreas, com sua esposa Connirae, vem aprendendo, ensinando e desenvolvendo a Programação Neurolinguística (PNL) por mais de vinte anos. Eles são autores ou editores de diversos livros e artigos de PNL. Site: www.steveandreas.com

Este artigo foi publicado na revista Anchor Point, vol. 16, no. 2, fevereiro de 2002.
Artigo original: Resolving Grief - http://www.steveandreas.com/Articles/grief02.html

Tradução JVF, direitos da tradução reservados. 

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