PNL e Educação 1 – Uma Mudança de Foco

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dom, 15/12/2002

Embora os princípios da PNL tenham sido aplicados efetivamente ao bem-estar psicológico, à saúde e aos negócios, suas aplicações à educação demoraram mais a se materializar. Devido ao fato de que muitos educadores nunca ouviram falar em PNL e não têm qualquer ideia de quanto ela pode ser valiosa em seu trabalho, há pouca demanda de treinamento por parte deles. Os educadores que estão familiarizados com a PNL encontram-se sempre tão ocupados com seus muitos deveres e responsabilidades, que poucos deles têm tempo para explorar esta importante ferramenta. Já que a PNL tem um potencial tão grande para gerar mudanças positivas na educação, chegou a hora de pensar mais sobre a maneira como podemos unir esses dois campos.

Aplicações da PNL na educação, como os trabalhos de Don Blackerby, Sid Jacobson, e Michael Grinder têm focalizado o modo como os educadores podem usar a PNL para trabalhar com estudantes problemáticos ou para abordar necessidades individuais. Conquanto seja uma ferramenta valiosa, ela segue um padrão extremamente comum na educação. Ela aumenta a lista dos "deveria", pela a qual os professores são bombardeados constantemente. Centenas de livros sobre "como fazer", seminários de desenvolvimento profissional, e esforços para fazer reformas focalizam a maneira como os professores deveriam lidar com a disciplina, deveriam apresentar informações, deveriam avaliar o aprendizado dos alunos. Longe de dizer-lhes o que eles deveriam estar fazendo, os professores recebem menos atenção do que os atraentes pacotes de materiais do currículo ou o projeto dos prédios escolares. Eles são vistos como fatores constantes na equação educacional, ao invés da variável mais importante.

Mesmo quando são feitos "estudos de qualidade", o objetivo deles é identificar um conjunto de comportamentos que pode ser transmitido para e adotado por outros professores – mais "deveria's". Enquanto as diferenças individuais entre os alunos recebem toda a atenção, as diferenças entre os professores são ignoradas.

Existe uma suposição não questionada de que todos os professores vão receber e implementar esses "deveria's" da mesma forma. Somos levados a acreditar que se apenas os professores se comportassem "adequadamente", os problemas da educação desapareceriam. Assim, permanece a pergunta: "se nós devemos, por que não o fazemos?"

O Pensamento dos Professores — Um território inexplorado.

O que ganharíamos encorajando os professores a examinar aquilo que eles já fazem – e, mais importante, por que o fazem? A PNL oferece ferramentas valiosas para examinar o processo inconsciente envolvido no pensamento dos professores, e os comportamentos que são provocados e limitados por esse pensamento.

Aqui estão apenas algumas áreas do pensamento dos professores que influenciam profundamente os processos educacionais.

  • Os professores operam a partir de um conjunto de crenças não examinadas sobre a natureza do ensino e do aprendizado, sobre o conhecimento, e sobre a finalidade da própria educação.
  • Os professores operam a partir de um conjunto não examinado de valores – tanto pessoais como profissionais. Muitas vezes, os valores pessoais conflitam com os valores da instituição, dos administradores, e até com os valores do próprio professor a respeito dos alunos.
  • Os professores descrevem inconscientemente seu trabalho numa variedade de metáforas – jardinagem, tecelagem, treinamento, escultura e preenchimento de recipientes vazios. A paisagem do conhecimento humano torna-se algo para ser "coberto" – ostensivamente com a ideia de "pegar" pequenas porções desse conhecimento ao longo do caminho. Cada metáfora cria, inconscientemente, uma moldura dentro da qual alguns comportamentos são apoiados e outros proibidos.
  • Os professores vivem uma visão de mundo particular – que tornou-se tão natural a ponto de raramente ser questionada. Os estudantes que têm a audácia de questionar essa visão de mundo são frequentemente vistos como destrutivos porque, na mente do professor, qualquer outra visão do mundo é literalmente "impensável".
  • Existe uma pressuposição de concordância sobre o significado de palavras "simples" como ensinar, aprender, compreender, responsabilidade e sucesso. Quando os educadores são forçados a definir realmente essas palavras, fica evidente que a concordância muitas vezes acaba em sua pronúncia! O que significa compreender? Como isso se reflete na avaliação?
  • Os professores tendem a absorver e raramente questionar a "sabedoria convencional" da educação, embora muito dessa "sabedoria" consista de vírus de pensamento, crenças limitantes que se separaram de seus contextos originais. Portanto, o fundamento sobre o qual o edifício da educação se apoia muitas vezes é falho.
  • Os educadores não comprovam as pressuposições da "sabedoria convencional." Por exemplo, o que o grito de batalha "de volta às bases" realmente significa?
  • O que acontece quando os metaprogramas de um professor estão em "desacordo" com os dos alunos?
  • Como as "perguntas essenciais" feitas pelos professores influenciam o comportamento deles?

Essas são apenas algumas das diferenças individuais e "tradições" educacionais que formam os comportamentos dos professores – e as experiências de seus alunos. Conquanto seja importante, para os teóricos da educação e reformadores, conhecer e abordar essas diferenças, é ainda mais importante que os próprios professores reflitam sobre seus próprios pensamentos e comportamentos. Nos próximos meses, vou elaborar algumas dessas ideias numa série de artigos da Anchor Point sobre a PNL e a educação.

Trabalhando com Estudantes de Verdade

No restante deste artigo, eu gostaria de voltar a alguns exemplos de como os professores e/ou conselheiros podem usar a PNL com os estudantes. Espero que esses poucos exemplos demonstrem quão poucos educadores realmente sabem o que está se passando nas mentes de seus alunos – e o quanto as ferramentas da PNL podem ser úteis. Os exemplos são histórias verdadeiras sobre alunos com quem eu trabalhei em minhas "horas de folga", quando estava lecionando.

1. Diane estudava cuidadosamente a ortografia das palavras antes de cada teste e não tinha problemas para escrevê-las em casa. No entanto, ela fracassava continuamente nos testes. A análise de suas estratégias de aprendizado e de como ela usava seus sentidos para processar as informações revelou que Diane lembrava as palavras ao escrevê-las para si própria internamente – diálogo interno. Diane também era extremamente sensível a sensações auditivas externas.

Devido ao fato de que o auditivo interno (diálogo interno) e o auditivo externo (sons que vêm de fora) compartilham muitos dos caminhos neurais no cérebro, eles necessariamente competem pela atenção. Conhecemos pessoas que se ocupam tanto pensando sobre o que vão dizer depois, que realmente não ouvem o que a outra pessoa está dizendo.

Ao invés de pronunciar simplesmente as palavras a serem escritas, o professor de Diane gravou-as para cada teste numa fita cassete. Ele dizia uma palavra e deixava a fita correr em silêncio por vinte segundos, a fim de dar tempo para os alunos escreverem a palavra. A seguir, ele dizia a palavra seguinte.

O problema de Diane é que a fita tinha ruído. Durante o espaço "em silêncio", havia um humm ou buzz audível, que Diane achava extremamente importuno. Ela estava tão focalizada no "auditivo externo" que era incapaz de "ouvir" a si mesma escrevendo as palavras. O som desagradável também mudava o estado emocional de Diane para uma intensa irritação, tornando ainda mais difícil para ela focalizar-se sobre o processo cognitivo. Além disso, ela não estava consciente do fato.

Por outro lado, o professor e muitos dos outros alunos nem sequer ouviam o ruído, ou se ouviam não se incomodavam com ele. Mas, quem sabe quantos outros, na classe, eram rotulados de não saber escrever, quando escreviam bem em outras condições.

2. Tim estava triste porque realmente gostava de ciências mas não passava nos testes. Como Diane, ele compreendia tudo quando estudava em casa. Mas, quando fazia os testes, não conseguia lembrar-se das informações de que necessitava. Tim era um rapaz ativo, o que sugeria que o movimento poderia ser um fator importante nesse problema.

Após Tim ter aprendido como focalizar suas representações sensoriais internas, (o que vê, ouve, sente, cheira ou saboreia, juntamente com um dado processo "mental"), o problema tornou-se claro. Enquanto estudava para o teste, Tim estava associado dentro de seu corpo. Em sua mente, ele estava realmente "fazendo" o experimento ou, de alguma maneira, interagindo fisicamente com a informação. Quando ele fazia um teste, ao invés de estar em seu corpo "fazendo", Tim estava "vendo a si mesmo fazer". Ele estava dissociado das informações que seu corpo fornecia. Isso era o que o impedia de acessar o conhecimento de que precisava. De algum modo, Tim armazenava as informações em seu corpo. Ele tinha que estar naquele corpo para acessá-las. Quando reconheceu isso, Tim conscientemente assumiu o compromisso de "entrar em seu corpo" nos testes, e seus problemas desapareceram.

3. Os problemas de Melanie eram semelhantes. Todas as semanas, ela entendia todos os problemas de matemática feitos em aula. Seu trabalho de casa não apresentava falhas. Mas os testes das sextas-feiras resultavam sempre em fracasso. Pensando que esse poderia ser um caso de "ansiedade da prova", eu procurei primeiro as submodalidades que havia encontrado em muitos outros alunos – imagens do teste cobertas com correções em vermelho e uma nota de desaprovação, os relógios correndo e uma sensação de "tempo muito curto", ou objetos que bloqueavam a "visão" do estudante de seu conhecimento, como nuvens ou até paredes de concreto!.

Quando nada disso apareceu, eu perguntei a Melanie "onde ela foi" buscar as respostas. Em outras palavras, eu estava perguntando como ela "sabia". Levou algum tempo, mas depois descobrimos que ela "via" os problemas que haviam sido resolvidos naquela semana. No olho de sua mente, os problemas de cada dia estavam numa folha diferente de papel. As folhas estavam lado a lado. Isso parecia dar-lhe "acesso" ao conhecimento de que precisava.

Mas o problema, como apareceu, não era de Melanie, mas algo que o professor não havia feito. Embora Melanie compreendesse como resolver cada tipo de problema, o professor nunca havia discutido como se usa o próprio problema para descobrir a solução. De Segunda a Quinta-feira, os problemas foram bem divididos – um tipo a cada dia – e assim a mesma solução era sempre usada. Mas no teste, os problemas eram todos misturados. Decidir que solução usar era tão "fácil" para o professor, que ele simplesmente presumiu que isso fosse óbvio também para os estudantes. Ele nunca havia pensado sobre como ele "sabia" qual a solução a ser usada e, portanto, nunca ensinou isso.

Focalizando indivíduos ao invés de grupos

Esses não são alunos "especiais". Eles são o tipo de alunos que estão em nossas salas de aula – cada um deles processando as informações à sua maneira única. Tornar os alunos e os professores conscientes dessas estratégias de processamento pode ter um profundo efeito sobre o sucesso dos alunos. Com Tim, a resposta exigia somente o reconhecimento de sua parte e uma mudança consciente de suas estratégias. No caso de Diane e os testes de ortografia, e de Melanie e os testes de matemática, a solução exigia uma mudança de comportamento do professor. Mas, se o professor não estiver consciente dos processos potenciais internos dos alunos, como ele poderá mudar? Os professores de Diane e de Melanie ficaram surpresos quando ouviram quais eram os problemas – e, felizmente, foram rápidos em fazer as mudanças necessárias.

Todos os alunos estão interessados nos processos cognitivos internos, dos quais nem eles nem os professores estão conscientes. Para aumentar a confusão, os professores estão envolvidos em processos inconscientes similares. Talvez o professor sempre imagine aquilo de que está falando e presuma que todos os outros fazem a mesma coisa. Mas, nem todos "veem aquilo que você está vendo".

É preciso treinamento para "desenrolar" os processos de aprendizado de um estudante; mas, como a educação poderia melhorar, se pelo menos uma pessoa em cada escola pudesse trabalhar com os estudantes dessa maneira? Os trainers de PNL estariam prestando enorme serviço à sociedade se conseguissem que os educadores tomassem consciência do potencial da PNL e desenvolvessem treinamentos específicos para os educadores. Escrever artigos para revistas de magistério. Juntar-se aos grupos de discussão na Internet.

Está havendo um desejo crescente de reflexão sobre si mesmos, por parte dos professores. Muitos professores estão querendo, mas não têm ideia de como começar. Os treinamentos que oferecem habilidades fundamentais relevantes da PNL e avançam para a exploração intensiva do pensamento do professor são extremamente necessários.

O currículo "oficial" descreve o conteúdo que supõe deva ser aprendido na escola, mas não é o mesmo que o currículo "ensinado" e "aprendido". O que os professores ensinam, por serem quem são, e pelas crenças e valores que transmitem através de seus comportamentos, são lições muito mais invasoras e permanentes. É hora de tomar consciência do pensamento que impulsiona o comportamento dos professores. Os professores devem aos seus alunos a responsabilidade de começar a aplicar conscientemente o poder que têm para dar forma à educação.

NOTAS FINAIS

1. Blackerby, Don. Rediscover the Joy of Learning. Oklahoma City: Success Skills

2. Jacobson, Sid (1983) Meta-Cation: Prescriptions for Some Ailing Educational Processes. Cupertino, CA: Meta Publications.

3. Grinder, Michael (1989) Righting the Educational Conveyor Belt. Portland, Oregon: Metamorphous Press

4. Dilts, Robert (1999) Sleight of Mouth: The Magic of Conversational Belief Change. Cupertino, CA: Meta Publications.

5. Yero, Judith Lloyd (2002) Teaching in Mind: How Teacher Thinking Shapes Education. Hamilton, MT: MindFlight Publishing.

6. Lawley, James (1997) "The Application of Metaprogrammes in the Classroom," Publicado no Rapport. No 37, Outono, 1997.
 

Trad. Hélia Cadore
Publicado na Anchor Point September/2001
Publicado no Golfinho Impresso Nº 84 de Jan/2002

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