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Um amigo me enviou um exemplo muito interessante sobre mudança através da conversa.
Na biografia de Janos Starker, violoncelista de renome mundial - gravou mais peças do que qualquer outro, já foi chamado de o "Rei dos violoncelistas" e ainda ensina aos 86 anos - há uma história sobre o hábito dele se atrasar para os concertos em que atua. Starker é citado como segue:
"Eu me lembro vividamente das minhas frenéticas invenções de desculpas por chegar atrasado. Já era a quinta vez. Enquanto eu trocava de roupa, colocando meu smoking, a orquestra iniciou a abertura sem a minha presença."
O querido John Mundy, gerente da orquestra, interrompeu minha pitoresca história e disse: "Não, Janos. Não se incomode. Eu sei como é desagradável para você chegar atrasado".
"Não me lembro, vinte e dois anos depois, de ter chegado atrasado para nenhuma obrigação profissional."
Como esse único comentário mudou permanentemente o hábito de Starker chegar atrasado? Agora faça uma pausa para revisar as informações fornecidas acima, e pense sobre como esse curto comentário resultou numa mudança imediata e permanente...
Observe que Janos descreve a situação como uma "obrigação profissional." Acho que é muito provável (embora não possa provar) que Janos estava pensando que ele deveria chegar na hora, a fim de agradar aos outros - visto que é isso o que a maioria das pessoas quer dizer com a palavra "obrigação." Como a maior parte das pessoas, ele tinha uma reação oposta a essa demanda implícita, que o levava a estar cronicamente atrasado. ("Chegar atrasado, já é a quinta vez.")
Toda vez que alguém diz: "Você devia - ", a reação típica da maioria de pessoa é: "eu não quero --" a qual é chamada de uma "reação de oposição" ou resposta de polaridade. Esse tipo de reação pode ocorrer até mesmo quando queremos fazer alguma coisa! Como disse Paul Watzlawick: "A maturidade é fazer aquilo que você quer fazer, até mesmo quando a sua mãe acha que é uma boa ideia."
No momento em que Mundy falou com ele, o fato de que ele estava frenético e que podia lembrar-se disso vividamente, indica que a atenção de Janos estava totalmente ocupada: "Eu me lembro vividamente das minhas frenéticas invenções de desculpas por chegar atrasado, já pela quinta vez, e que enquanto eu trocava de roupa, a orquestra iniciou a abertura sem a minha presença."
Quando Mundy disse: "Não, Janos", isso foi uma interrupção inesperada, o que normalmente faz com que alguém fique muito mais disposto a aceitar qualquer comunicação posterior. (Veja no meu blog o post sobre interrupções de padrão.)
Então Mundy disse algo que também deve ter sido muito inesperado, outra interrupção. Ao invés de queixar-se, ou repreendê-lo, ou julgar o seu atraso e o impacto sobre os outros, ele é simpático, e pressupõe que o atraso é desagradável para Janos. "Eu sei como é desagradável para você chegar atrasado."
Isso deslocou a atenção de Janos de "as outras pessoas estão se sentindo mal" para "eu estou me sentindo mal." Uma vez que a sua atenção foi redirecionada para seus próprios sentimentos, ficou fácil para ele mudar o seu comportamento. "Isso me faz sentir muito mal. Eu não quero fazer isso nunca mais." (Deve ter sido muito desagradável para ele estar correndo para colocar o seu smoking, enquanto inventava desculpas frenéticas, com a orquestra tocando sem ele!)
Redirecionar a atenção dele para seu próprio aborrecimento mudou seu "deve" externo (contentar os outros) para um "quero" interno (para evitar o aborrecimento) e é essa a diferença crucial que tornou fácil a mudança para ele e para que essa mudança dure 22 anos.
Outra forma de pensar sobre essa mudança é que, inicialmente, o seu "deveria" e o seu "quero" estavam em oposição. O comentário de Mundy mudou a sua vontade de estar alinhado com o deveria, de modo que ele se tornou congruente sobre estar na hora certa.
Os queros são tipicamente muito mais eficazes para nos motivar do que os deveria. Se isso fosse estampado nas paredes das nossas mentes, todos nós - especialmente os pais – poderia nos salvar de uma enorme quantidade de conflitos, dificuldades e consequências desagradáveis. Mesmo quando as crianças, os adolescentes ou os adultos seguem obedientemente um deveria, a resposta "eu não quero" ainda está lá, uma polaridade à espreita e à espera de uma oportunidade para emergir em um comportamento. Mas quando os nossos próprios queros estão motivando o nosso comportamento, nós somos muito mais congruentes, e muito menos propensos a nos envolver em qualquer espécie de rebeldia sem sentido ou em outro comportamento autodestrutivo.
Eu gosto dos exemplos pequenos e concisos como esse, especialmente os de conversação, que podem ilustrar tão claramente um princípio importante de como podemos mudar rapidamente e sem esforço.
A próxima vez que você se encontrar a ponto de dizer para alguém (ou para você mesmo) que ele deveria fazer algo, faça uma pausa. E depois pense em que aspectos de fazer isso seriam natural e espontaneamente agradáveis ou prazerosos... Ou quais as consequências de fazer isso seriam atraentes... Ou como fazer isso demonstrando algo positivo e louvável... E, em seguida, pense sobre o que você poderia dizer - e como fazer isso não verbalmente - que poderia provocar uma reação de querer fazê-lo...
Quando o seu filho queria que ela fizesse alguma coisa, uma mulher muito inteligente que eu conheço, muitas vezes, dizia para ele: "Eu poderia fazer. Como você pode me fazer querer fazer isso?" como uma maneira de treiná-lo a desenvolver suas habilidades de persuasão (em vez das suas habilidades de lamentos e queixas, como tantos pais inconscientemente fazem).
E se você realmente não pode pensar em mais nada de útil para dizer, provavelmente seria muito melhor não dizer nada – tanto verbal como não verbal - para que você não elicie a reação de oposição à palavra "deveria", que é uma maneira muito segura para tornar sua vida - e a dos outros - uma vida de "deverias".
Steve Andreas, co-fundador da NLP Comprehensive. www.steveandreas.com
O artigo "Instant (and lasting) Conversational Change" encontra-se no site NLP Comprehensive.
Tradução JVF, direitos da tradução reservados.