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Você está frustrado porque não consegue a cooperação necessária de sua gerência ou de sua equipe? Zangado porque seus colegas de trabalho não compreendem a importância daquilo que estão fazendo e agem irracionalmente? Seus clientes perdem o controle e o atacam por assuntos triviais? As pessoas com quem você trabalha se comportam como criaturas desprovidas de cérebro, agindo por impulso, ao invés de lógica?
Pode haver uma explicação simples para esse comportamento. Você pode estar trabalhando com répteis, tanto literalmente como em sentido figurado. Não, não quero dizer que você trabalha com cobras sobre a grama. Os cérebros reptilianos de seus colegas de trabalho podem estar controlando o comportamento deles.
Por que as pessoas agem como répteis?
De acordo com a teoria do cérebro tri-único, desenvolvida pelo Dr. Paul MacLean, Chefe do setor de Evolução do Cérebro e Comportamento do Instituto Nacional da Saúde, temos três cérebros, e não apenas um. Essa teoria pode ajudar a explicar alguns comportamentos, tanto nossos quanto de nossos colegas de trabalho, e o comportamento das pessoas que encontramos.
A haste do cérebro é o cérebro reptiliano. É um remanescente de nosso passado pré-histórico. É útil para decisões rápidas, que não exigem pensamento. O cérebro reptiliano focaliza-se na sobrevivência, e entra em ação quando estamos em perigo e não temos tempo para pensar. Num mundo em que sobrevivem os mais capazes, o cérebro reptiliano preocupa-se com a obtenção do alimento e em não se tornar alimento. O cérebro reptiliano é orientado pelo medo, e entra em ação quando somos ameaçados ou estamos em perigo.
Uma segunda parte do cérebro é a haste límbica ou cérebro mamífero. A haste límbica é a raiz das emoções e sentimentos. Ela afeta o humor e as funções do corpo.
O neocórtex é a parte do cérebro mais evoluída e adiantada. Ela governa nossa habilidade de falar, pensar, e resolver problemas. O neocórtex afeta a criatividade e a capacidade de aprender. O neocórtex abrange aproximadamente 80 por cento do cérebro.
Na Era Industrial, o cérebro reptiliano era apreciado e necessário. As empresas esperavam que os trabalhadores da linha de montagem recebessem as ordens e trabalhassem sem pensar. Os administradores da Era Industrial realizavam as funções do neocórtex. Os gerentes é que pensavam, e os trabalhadores faziam o que os gerentes os mandavam fazer.
Na Era da Informação, isso não funciona mais. Hoje, os trabalhadores devem pensar, tomar decisões, e usar sua criatividade. Na Era da Informação, o comportamento reptiliano constitui-se em desvantagem e atrapalhação. Contudo, ainda existe o comportamento de réptil.
Deslocamento para cima e para baixo.
De acordo com a teoria do cérebro tri-único, as pessoas fazem o deslocamento para cima ou para baixo, para usar diferentes partes do cérebro, dependendo da situação. Quando deslocamos para cima, usamos nosso neocórtex. É necessário um ambiente seguro para fazer esse deslocamento para cima. Consequentemente, a criatividade, o aprendizado e a reflexão acontecem quando nos sentimos seguros, salvos e protegidos. O louvor e a segurança promovem o deslocamento para cima.
Por outro lado, o deslocamento para baixo é realizado quando o cérebro reptiliano se manifesta. As pessoas se tornam répteis quando estão com medo e preocupadas com a sobrevivência. A crítica e o medo promovem o deslocamento para baixo.
Princípio de aprendizado: Uma pessoa ou uma organização não pode evoluir se estiver fundamentalmente preocupada com a sobrevivência.
O que você pode fazer a respeito dos répteis de sua vida?
Além da sobrevivência física, nós devemos vencer dois medos básicos, no local de trabalho: (1) medo das dificuldades e (2) medo de falhar. Se as pessoas estão com medo das dificuldades ou de serem tratadas como alguém que falhou, elas não serão capazes de assumir risco algum. Uma das tarefas básicas da gerência é criar um ambiente de trabalho em que as pessoas não receiem as dificuldades nem as falhas.
Como é que podemos usar essa teoria? Se os seus clientes, colegas de trabalho, equipe ou gerência superior estão agindo como répteis, o comportamento deles pode estar baseado no medo e na sobrevivência. O cérebro reptiliano governa a ação com base no medo. Nós melhoramos as relações de trabalho reduzindo o medo deles, e melhorando as possibilidades de sobrevivência que eles percebem. Enfatizo a palavra "percebem". O medo, geralmente, é irracional. Embora não consideremos ameaçadora uma determinada situação, as pessoas que trabalham conosco podem ver nela uma ameaça. Os seus cérebros reptilianos começam a dominar e a luta ou a fuga parecem ser as únicas opções que elas são capazes de perceber.
De que maneira você lida com as pessoas governadas pelos seus cérebros reptilianos? (Não, uma lobotomia não é a resposta). As dicas a seguir poderão ajudar:
- Mostre-lhes que eles estão seguros e assegure-lhes que vão sobreviver.
- Ouça ativamente, dando retorno tanto para o conteúdo como para os sentimentos que eles expressarem.
- Deixe-os desabafar e expressar seus sentimentos.
- Não contra-ataque. Responder amavelmente faz com que a situação melhore.
A melhor estratégia, no entanto, é ser proativo e criar um ambiente seguro, que não estimule o cérebro reptiliano.
Não maldiga aqueles répteis sem cérebro que você chama de patrões, clientes e colegas de trabalho. Eles estão usando seus cérebros... a parte errada de seus cérebros. Ajude a erradicar a irracionalidade do local de trabalho, criando as condições nas quais os seus colegas de trabalho possam sentir-se confortáveis, usando a parte superior de seus cérebros.
Publicado na Anchor Point, Setembro, 2000.
Publicado no Golfinho nº 71 DEZ/2000
Trad. Hélia Cadore